UFC: Anderson Silva luta bem, mas não consegue resistir a Uriah Hall e é nocauteado no seu adeus
- Adeildo Velôso da Silva
- 1 de nov. de 2020
- 6 min de leitura
Jamaicano, que respeitou o brasileiro durante toda a luta e só conseguiu o nocaute no quarto round, desaba em lágrimas após a vitória e abraça o Spider: "Ele é o verdadeiro campeão"

Sonhos nunca morrem e lendas são para sempre. A máxima da imortalidade, que premia os que buscam o impossível, tem em Anderson Silva um dos seus maiores exemplos. Humano fora dos ringues, com defeitos e contradições, sobre-humano dentro dele. Ninguém aliou genialidade e talento dentro de um cage como o menino paulista criado em Curitiba pelos tios e que era fã do Homem-Aranha e sonhava ser policial. Nenhum outro também colecionou tantos momentos icônicos, apresentações geniais ou nocautes memoráveis. O lutador que fez os torcedores vibrarem em suas apresentações como se estivessem assistindo a jogos do Brasil em Copa do Mundo, e que transformou e consolidou o MMA como uma verdadeira paixão no país, reescrevendo a história do esporte, colocou, neste sábado, em Las Vegas, um ponto final no último capítulo da sua carreira no UFC. Aos 45 anos de idade, Anderson não teve a despedida que sonhava ou merecia. Sem a presença do público que o idolatrava, e tendo diante de si o jamaicano Uriah Hall, nove anos novo, o Spider foi superado no quarto round, sofrendo o nocaute técnico a 1m24s de luta.
No primeiro evento na história do UFC realizado na noite do Halloween, o Dia das Bruxas nos EUA, e com uma atmosfera completamente diferente das outras lutas de Anderson Silva - nas quais o público gerava uma energia única desde a caminhada do Spider rumo ao octógono até o anúncio do vencedor - a atmosfera era completamente diferente. Neste sábado, o cenário era um UFC Apex vazio. Entrando ao som da sua tradicional "Ain't no Sunshine", do rapper DMX, Anderson Silva aparentava tranquilidade.
- Foram tantas emoções que não sei descrever. Após a luta ele me disse para prestar atenção à minha mente, e vou levar isso para sempre. Ele é o meu herói, e mesmo eu tendo vencido a luta, ele é o verdadeiro campeão. Para mim, essa foi a luta de cinturão da minha carreira - disse Hall após a luta.
Durante alguns minutos, Anderson Silva ficou sozinho no centro do octógono, se despedindo do local em que encantou e conquistou o mundo. Logo depois, ele falou como se sentia.
- Uma luta é uma luta. As chances de vencer sempre são 50%. Estou aproveitando o momento, mas hoje foi o último dia, e fiquei feliz em dar o meu melhor show para a minha família e os meus fãs. Não sei se essa foi a minha última luta. Quero ir para casa e conversar com a minha família e meu time. É difícil dizer que essa é a minha última luta. Isso aqui é o meu ar, e eu faço isso a vida toda. Vamos ver. Tenho grandes lembranças de cada adversário que eu enfrentei no UFC - disse o Spider após a luta.
A luta começou com Anderson Silva fintando e buscando ajustar a distância para Hall. Os dois lutadores mantinham a calma e não se afobavam no ataque. Os dois trocaram chutes baixos sem contundência. O brasileiro arriscou um chute alto, mas parou na guarda do jamaicano, que tentou devolver o golpe mas perdeu o equilíbrio e caiu. Logo ao se levantar o jamaicano recebeu dois golpes de Anderson - um deles um chute rodado na panturrilha -, e os absorveu. No minuto final, Hall acertou um jab de encontro em uma tentativa de aproximação do brasileiro, que continuou avançando e buscando o ataque até o intervalo.
Os dois lutadores voltaram mais ativos para o segundo round. Anderson Silva atacou a linha de cintura de Uriah Hall com um chute, e depois tentou um chute frontal, que passou perto do rosto do rival. O jamaicano respeitava o Spider, e não buscava o ataque com o mesmo ímpeto de outras lutas. Anderson atacava com chutes e movimentava os braços para distrair o jamaicano, mas Hall mantinha o foco. A 40s do intervalo, Hall desferiu um chute alto rodado, que parou na guarda do brasileiro. Anderson circulou pelo octógono até o intervalo.
Uriah Hall retornou mais ativo para o terceiro round. A luta seguia sendo disputada na curta distância, mas sem que os dois lutadores se arriscassem no ataque. Anderson usava a maior envergadura para desferir socos na linha de cintura da longa distância. Hall tentou um chute rodado em velocidade, mas errou o alvo. O brasileiro respondeu com jabs rápidos que conectaram na cabeça do jamaicano. Após reclamar de uma dedada no olho, ignorada pelo árbitro, o jamaicano recuou e o Spider atacou, conectando bons golpes. Hall livrou-se da posição, e acertou uma bomba de direita que derrubou o Spider, que tentou se defender como conseguiu, agarrando-se nas pernas do rival até ser salvo pelo gongo de um nocaute.
Com o olho inchado, Anderson Silva voltou para o quarto round menos agressivo. Hall se movimentava e arriscava jabs e diretos de esquerda. Na segunda tentativa, Anderson se aproximou demais e o golpe entrou, impondo ao brasileiro mais um knockdown. O brasileiro tentou se defender, mas Hall acertou mais alguns golpes, obrigando o árbitro Herb Dean a encerrar o combate ao ver o Spider agarrar as suas pernas, desorientado. Após o fim da luta, Hall desabou em lágrimas abraçado ao brasileiro, se desculpando, dizendo que o amava e recebendo elogios e agradecimentos.
Se puder, esqueça as polêmicas, os erros e os deslizes. Reverencie a grandeza, aprecie a genialidade e tenha a certeza de que você foi um privilegiado por ter tido a chance de poder ver Anderson Silva lutar. Assim como Pelé ou Muhammad Ali, provavelmente nunca mais haverá outro Spider. Mesmo com Spider com uma luta por fazer no contrato, Dana White, presidente da franquia, garantiu que o brasileiro não luta mais pela companhia e ainda afirmou que “cometeu um erro” ao deixar ele entrar novamente no octógono. "Depende de mim decidir, e ele está se aposentando (do UFC). Ele ainda tem uma luta no contrato conosco, mas fez um acordo comigo. Antes desse contrato ser assinado, ele acordou comigo que essa seria a última luta e que se aposentaria, então temos um acordo. Já dei a ele mais lutas do que eu deveria. Na verdade, eu estou me sentindo mal, não me sinto bem comigo mesmo pelas lutas que eu dei a ele. Anderson deveria ter se aposentado antes. Mas o cara é uma lenda do esporte e nessa empresa e era difícil para mim dizer ‘não’ a ele", apontou. Dana também falou sobre a luta. "Não gostei de vê-lo lutando hoje, fico triste ao ver o resultado. Ele enfrentou um cara que não tem absolutamente nenhuma agressividade. Se ele luta com algum desses jovens selvagens, ele estaria em problemas, apanharia muito, de verdade. Uriah Hall é um dos caras menos agressivos do UFC. E Anderson mal conseguia se levantar para dar a entrevista. Teve que fazer a entrevista sentado. Eu cometi um grande erro ao deixá-lo lutar hoje. Eu sabia que estava certo, e isso ficou provado hoje. Ele não deveria lutar nunca mais", disparou Dana. O empresário ainda alegou que torce para que a família de Anderson o convença não lutar mais. "Não quero impedi-lo de fazer nada. Ele é adulto e pode fazer o que quiser, mas ele ainda tem uma luta conosco e eu não o deixarei lutar aqui (no UFC) nunca mais. Quero que ele se aposente e espero que a família dele o diga a mesma coisa quando ele chegar em casa. Estou em uma situação difícil agora, porque ele é um cara com quem eu importo, que está na companhia há muito tempo e eu não quero sentar aqui e detoná-lo. Mas ele tem quase 46 anos de idade. A menos que você esteja tentando salvar a sua própria vida ou defender a sua família, ninguém nessa idade deveria lutar", destacou. Por fim, Dana fez uma série de elogios ao brasileiro e o quer no Hall da Fama. "Ele é um dos maiores de todos os tempos. Muitas pessoas decidiram se tornar lutadores profissionais após verem Anderson Silva lutar. Ele inspirou uma geração inteira, não só de lutadores, mas de artistas marciais. Seu nome será eterno nos livros de recordes. Ele podia fazer coisas que as outras pessoas não conseguiam. Era quase impossível tocá-lo. O que ele fez com Vitor Belfort e com Rich Franklin. Chris Leben estava invicto quando eles lutaram, e tinha um queixo de aço. Ele fez parecer que Leben não tinha queixo. Para não falar no que ele fez com Forrest Griffin. Ele estava com a costela trincada contra Chael Sonnen e o finalizou quase no fim do quinto round. Anderson fez lutas lendárias aqui quando estava no auge. Ele já deveria estar no Hall da Fama. É inacreditável isso ainda não ter acontecido", concluiu.
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