Brasil: Fome
- Adeildo Velôso da Silva
- 21 de set. de 2020
- 2 min de leitura
Cerca de 10,3 milhões de brasileiros vivem em lares nessa situação. Percentual de domicílios com alimentação satisfatória atinge patamar mínimo em 15 anos.

Depois de recuar em mais da metade em uma década, a fome voltou a se alastrar pelo Brasil. Em cinco anos, aumentou em cerca de 3 milhões o número de pessoas sem acesso regular à alimentação básica, chegando a, pelo menos, cerca de 10,3 milhões o contingente nesta situação. É o que apontam os dados divulgados nesta quinta-feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Embora o maior número das pessoas em situação de miséria alimentar viva em áreas urbanas, é nas áreas rurais que a fome é mais prevalente.
De acordo com o IBGE, dos cerca de 10,3 milhões de famintos no país, 7,7 milhões viviam em perímetro urbano, enquanto 2,6 milhões, em regiões rurais. Todavia, proporcionalmente, estes números representavam, respectivamente, 23,3% do total da população que vivia em área urbana e 40,1% da população rural.
Dos cerca de 10,3 milhões de brasileiros que passaram fome em 2018, 4,3 milhões viviam na Região Nordeste, o que corresponde a 41,5% do total de famintos no país. Em seguida, aparece a Região Sudeste, com 2,5 milhões de habitantes com fome, e o Norte, com pouco mais de 2 milhões de pessoas nesta situação.
Rafaela Freris Silva está desempregada, grávida, e tem três filhos pequenos. A jovem de 23 anos deu o seu testemunho ao G1 como forma de pedir ajuda, pois está a atravessar sérias dificuldades de alimentação, tendo chegado ao ponto de ter só um ovo em casa.
"Tinha só um ovo para três crianças. Peguei nele e fritei-o para os meus meninos comerem", relatou a jovem, residente no Recanto das Minas Gerais, um bairro pertencente à região leste de Goiânia, no estado de Goiás.
"De manhã tomei só café puro mesmo, porque não tinha leite, não tenho nada. E para almoçar tinha um pouquinho de feijão, um arroz branco que eu fiz e o ovo [para as crianças]", explicou.
O marido de Rafaela tem um trabalho na Central de Abastecimento de Goiás (Ceasa-GO), mas o salário não é suficiente para pagar a renda e as contas de casa. Neste momento, a família está sem gás, usando álcool para acender fogo e cozinhar.
A organização não-governamental Oxfam sinalizou o Brasil como "zona emergente" de fome extrema, adiantando que a pandemia de Covid-19 veio acelerar o crescimento da pobreza e da fome em todo o país. De acordo com a ONG, a situação da pobreza e fome no Brasil começou a deteriorar-se em 2015 devido "à crise económica e a quatro anos de austeridade".
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