Brasil: Pantanal teve 14% de área queimada só no mês de Setembro
- Adeildo Velôso da Silva
- 8 de out. de 2020
- 3 min de leitura
O Pantanal brasileiro, considerada a maior zona húmida do planeta, teve 14% da sua área devastada pelo fogo apenas em setembro, superando todo o território destruído em 2019, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Trata-se da maior devastação anual do Pantanal brasileiro causada pelo fogo desde 2002, ano em que o INPE, um órgão vinculado ao Governo Federal, começou a fazer estas medições.
Segundo a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), parceira do INPE na monitorização das queimadas, 26% de todo o bioma do Pantanal já foi consumido pelo fogo de Janeiro a Setembro.
Nos primeiros nove meses do ano, a área destruída no pantanal chegou quase a 33 mil quilómetros quadrados, face aos 12.948 quilómetros quadrados devastados no período homólogo do ano anterior, e aos 20.835 quilómetros quadrados atingidos em todo o ano de 2019.
Até 2020, o ano que detinha o recorde de maior área destruída era 2005, quando os fogos devastaram 27.472 quilómetros quadrados do pantanal.
Situado na região centro-oeste, o Pantanal é uma planície que tem 80% de sua área inundada na estação chuvosa e é considerado um santuário de biodiversidade, onde ainda se encontra preservada uma fauna extremamente rica, que inclui animais como o jacaré, arara-azul ou onça-pintada, espécie classificada como "quase ameaçada" de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza.
Contudo, atravessa agora uma situação preocupante, ao enfrentar os piores incêndios das últimas décadas.
Especialistas indicam que o aumento das chamas na zona húmida do Pantanal se deve ao aumento da desflorestação ilegal, que vem crescendo gradativamente a cada ano, causando uma série de mudanças climáticas, como a alteração do ciclo natural das chuvas.
Este ano não choveu o suficiente durante a temporada, o que baixou os níveis de humidade do Pantanal para os menores índices dos últimos anos.
No mês passado, o Pantanal brasileiro registou 8.106 focos de incêndio, um número recorde desde 1998, segundo dados do INPE.
Também no acumulado do ano foram atingidos recordes: de 01 de Janeiro até 30 de Setembro, o INPE contabilizou 18.259 fogos. Antes disso, o maior número tinha sido registado ao longo de todo o ano de 2005, quando se somaram 12.536 focos de incêndio.
Situação nos demais biomas:
Pampa - As medições já apontam recorde de queimadas. Até Setembro, foram destruídos 6.044 km². O recorde anterior, considerando o ano inteiro, era de 2003, quando foram queimados 2.488 km².
Amazônia - Se considerado apenas o acumulado entre Janeiro e Setembro, o bioma teve a maior perda de área desde 2010. Até setembro foram 62.311 km² de área destruída, contra 96.020 em 2010.
Caatinga - Houve redução nas queimadas. Elas destruíram 7.775 km² contra 12.443 km² em 2019 e 13.121 km² em 2018, no período entre Janeiro e Setembro.
Cerrado - Também houve diminuição em relação ao ano passado. Foram destruídos 102.390 km² até Setembro deste ano contra 122.674 km² de Janeiro a Setembro do ano passado.
Mata Atlântica - A área destruída pelo fogo s se manteve estável. Foram 15.055 km² queimados neste ano, contra 15.020 no ano passado, considerando apenas dados acumulados até setembro.
Avanço do fogo no Pantanal
O monitoramento do governo federal aponta ainda que setembro teve ainda o maior número de queimadas desde o início das medições em 2002. Foram 14.264 focos de calor detectados de 1º a 30 de Setembro, mais de 120% maior que o mesmo mês no ano passado.
De Janeiro a Setembro de 2020, o bioma teve 32.910 focos de queimadas. No mesmo período no ano passado, foram 6.476 focos de queimadas.
Seca e ação humana
Felipe Augusto Dias, diretor-executivo da ONG SOS Pantanal, em Campo Grande, afirmou que "ações humanas" são a origem dos focos de incêndio. Ele disse que a equipe do Prevfogo, do Ibama, que trabalha para apagar as queimadas na região, credita 99% do fogo à ação humana.
Com menor área inundada do bioma, que é a maior planície alagada do mundo, há mais área para servir de "combustível" para o fogo. O vento, combinado com o tempo seco, contribui para o alastramento dos incêndios.
Nesta época do ano, a região vive o seu o período seco, mas, mesmo em janeiro, na estação úmida, choveu pouco. E as chuvas, por terem sido mal distribuídas ao longo do mês, também prejudicaram o bioma, porque a água que vinha após os longos períodos de seca não era suficiente para encharcar o solo.
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