Brexit: Reino Unido e UE retomam conversas

Londres, 8 de Setembro de 2020 (Prensa Latina) O Reino Unido e a União Européia (UE) começarão hoje aqui a oitava rodada de negociações sobre um acordo comercial pós-Brexit, agora impelidos pelo ultimato do primeiro-ministro britânico Boris Johnson.

A nova rodada de reuniões, a oitava e, possivelmente, a última, acontece esta semana em Londres sob a sombra de rumores de que os britânicos podem deixar a mesa de negociações e ainda mudar os termos do acordo que já havia sido acertado com Bruxelas, as chamadas bases para o divórcio.

Segundo advertiu ontem o líder conservador, Londres irá considerar encerradas as conversas se até o próximo dia 15 de Outubro não forem estabelecidos os termos das futuras relações comerciais entre os antigos aliados.

Se não pudermos chegar a um acordo até lá, então não vejo que possa ser atingido um acordo de livre comércio entre nós, e ambas partes devemos aceitar isso e seguir adiante, sentenciou Johnson em um comunicado divulgado por seu gabinete.

A novidade despertou desconfiança entre os europeus e azedou o tête-à-tête presencial. O negociador chefe da UE, Michel Barnier, desembarca na capital britânica hoje com a seguinte mensagem: se é para mudar o que já estava acertado, não tem conversa. De acordo com o jornal britânico Financial Times, o governo do primeiro-ministro Boris Johnson pretende passar uma lei que, se aprovada, vai rescrever o combinado com Bruxelas sobre o status da Irlanda do Norte, uma das questões mais complicadas da novela do Brexit, que se arrasta há mais de quatro anos.

Ainda que disse estar disposto a definir critérios com a UE em temas práticos como os voos, o transporte por estrada e a cooperação científica, Johnson advertiu que o Reino Unido não cederá em questões que afetem sua independência.

Também afirmou que seu governo está se preparando para um Brexit sem acordo, e que o país terá liberdade para negociar acordos comerciais com outros países, e prosperará enormemente como resultado.

'Teremos controle total sobre nossas leis, nossas normas e nossas águas para a pesca,' enfatizou.

Depois de abandonar a aliança europeia no dia 31 de Janeiro deste ano como parte do tratado de retirada assinado após Brexit, Londres e Bruxelas se deram 11 meses de prazo para estabelecer um acordo de livre comércio, mas decorridas sete rodadas de negociações, o diálogo permanece estancado.

As quotas de pesca, a ajuda estatal ao setor privado, os mecanismos legais para mitigar os conflitos comerciais que possam surgir, e os regulamentos para evitar a competição injusta aparecem como os principais impecilhos para que sejam frutíferas as conversas entre os negociadores David Frost, pela parte britânica, e Michel Barnier, pela UE.

Se um acordo não for assinado antes de 31 de Dezembro, ou se Johnson cumprir sua ameaça de abandonar as negociações em 15 de Outubro, o Reino Unido e o bloco europeu terão que comercializar sob as regras da Organização Mundial do Comércio, o que implicaria a imposição de tarifas e controles alfandegários rigorosos para as mercadorias britânicas que entrarem ao território da aliança.

É difícil entender por que o Reino Unido, que parece a parte mais frágil nestas negociações, tenta forçar os europeus para o precipício. Um Brexit sem acordo é ruim para a Europa, mas os 27 países que ficam no bloco têm a tranquilidade de estar dentro de um mercado de meio bilhão de habitantes. O Reino Unido, por sua vez, terá de renegociar sua posição no mundo, com novos acordos comerciais, com os europeus inclusive.

O relógio não para. O tempo é cada vez mais curto. As regras de transição, que permitem ao Reino Unido funcionar como se ainda estivesse dentro da UE, terminam no dia 31 de Dezembro. Mas um acordo, se é que ele será possível, tem de ser acertado até meados de Outubro. Isso porque é preciso dar tempo para que o entendimento seja submetido e aprovado pelos parlamentos de cada um dos 27 países da UE.