Eletroestimulação: A tendência do fitness que promete resultados rápidos
- Adeildo Velôso da Silva
- 13 de nov. de 2020
- 6 min de leitura
Seja através das clínicas de estética ou da fisioterapia, todos estamos familiarizados com os aparelhos de eletroestimulação. Agora, os estímulos elétricos chegaram para revolucionar o universo dos ginásios e são já uma prática popular em toda a Europa, Estados Unidos e Brasil.

Uma combinação entre eletroestimulação muscular e exercício físico personalizado. Esta é uma das mais recentes tendências do mundo do fitness que visa atingir resultados de uma forma mais eficiente do que o treino convencional.
Treinar no menor tempo possível com a mesma eficácia de um treino longo, ou com uma maior eficácia, tem sido uma das premissas na procura de métodos e técnicas de treino.
Para resultados mais rápidos, nada melhor do que incrementar a estimulação muscular através de choques elétricos.
O conceito não é novidade porque, desde há algum tempo, goza de fama no que diz respeito à tonificação muscular, nomeadamente no âmbito terapêutico.
Fruto de investigações nas áreas de bioengenharia e eletrofisiologia, foram surgindo vários tipos de eletroestimuladores musculares, mas os mais conhecidos são os eletroestimuladores de uso clínico, como os pacemakers – auxiliadores na regulação dos batimentos cardíacos através de estímulos elétricos emitidos pelo dispositivo implantado no nosso corpo, sendo uma das soluções em problemas de funcionamento do coração –, ou os desfibrilhadores usados na reanimação cardíaca.
No ramo da fisioterapia estão amplamente disseminados os tratamentos que recorrem ao sistema de eletroestimulação como forma terapêutica de lesões, reabilitação ou inibição da atrofia muscular, tendo como referência as iniciativas que remetem ao Séc. XVIII, em que o método era abordado como um possível meio de tratamento de algumas patologias.
A técnica ganha nova “roupagem” assim que se começa a “passear” pelos intentos do fitness, ainda que, já na década de cinquenta, a técnica da eletroestimulação fosse utilizada por atletas russos na tonificação muscular.
As áreas do desporto, sobretudo do fitness, recrutaram o sistema que promete uma série de benefícios, em particular o da hipertrofia muscular.
Segundo os responsáveis que têm vindo a desenvolver esta nova forma de treino auxiliada por dispositivos elétricos, através desta técnica e, mediante programas específicos devidamente personalizados, poder-se-ão alcançar, de forma rápida e eficaz, variadíssimas metas propostas relativamente ao desenvolvimento e tonificação muscular.
Em Portugal existem vários centros que disponibilizam exclusivamente este tipo de treino e, tem vindo a aumentar o número de ginásios e de academias a adotar o método.
Nos sites dos diversos centros existentes no país são referenciadas as várias vantagens que se podem obter requerendo os programas de treino com eletroestimulação muscular, que vão desde: “tonificação muscular, redução de gordura, melhoria nas aptidões de força, resistência, velocidade, equilíbrio, fortalecimento de articulações e tendões, até à prevenção do envelhecimento”.
Neste campo não se deixe enganar pois a lista de benefícios não difere muito dos benefícios obtidos através de programas convencionais de exercício físico programado e continuado. Talvez a diferença esteja na velocidade de obtenção dos resultados.
À vista disso, e apercebendo-me de que este novo método de treino tem ganho cada vez mais adeptos, fui tentar perceber como funciona o que promete ser grandemente eficaz nos resultados, retirando apenas sensivelmente 20 minutos de esforço físico aos nossos atarefados dias.
Principais tipos de estimulação eletromuscular
Atualmente, são cinco os principais tipos de estimulação eletromuscular existentes no mercado, que se “diferenciam nos seus diferentes objetivos e formas de estimulação, tanto a nível dos sinais enviados aos músculos como do próprio posicionamento e tipo de elétrodos utilizados”, são eles:
– Estimulação muscular eletrónica (EMS);
– Estimulação muscular russa (referenciada em alguns estudos como sendo parte da EMS, em que a principal diferença se verifica na profundidade da estimulação do músculo, provocando uma total e intensa contração muscular);
– Estimulação neuroelétrica transcutânea (TENS);
– Estimulação inerencial;
– Eletroacupuntura.
O sistema usado pelos vários centros de eletroestimulação é o EMS, considerado como “potenciador do desenvolvimento muscular quando este é efetuado ao mesmo tempo que se pratica exercício físico”.
Como funcionam os treinos com eletroestimulação?
A aplicação de uma maior intensidade nos seus treinos num curto espaço de tempo é a principal caraterística dos famosos treinos HIIT (High intensity interval training – treino intervalado de alta intensidade). Nos treinos com eletroestimulação o conceito é o mesmo, em que se exige do músculo mais trabalho em pequenas sessões de 20 minutos equivalentes a 90 minutos do treino convencional.
Nestas sessões, o músculo recebe estimulação extra através de elétrodos estrategicamente colocados na superfície do nosso corpo enquanto são efetuados uma série de exercícios físicos predefinidos.
Seguidamente, para que perceba o processo, farei uma breve descrição da ação do músculo assim que recebe o estímulo para contrair.
Estimulação muscular biológica
Percebendo a circunstância de que uma das principais funções musculares é transformar a energia que vamos buscar aos alimentos em movimento e que os músculos, quanto mais exercitados mais eficientes são, inferimos imediatamente a sofisticação das suas ações no nosso organismo.
Dos três tipos de músculos existentes no nosso organismo (esquelético, liso e cardíaco), aquele que iremos abordar é o músculo esquelético, caraterizado por efetuar contrações voluntárias, isto é, somos nós quem decide quando certos músculos do nosso corpo devem contrair, o que não acontece, por exemplo, no músculo cardíaco, no qual as contrações são involuntárias.
Os músculos esqueléticos são compostos por tecidos constituídos por fibras musculares que possuem a propriedade de contratilidade, e que aguardam sempre pelos comandos do sistema nervoso central para dar início à contração.
As fibras musculares são células de forma cilíndrica que, por sua vez, contêm cilindros de proteínas, as miofibrilas.
As miofibrilas contêm dois tipos de filamentos: os grossos (constituídos pela proteína miosina) e os finos (constituídos pela proteína actina). São estes os grandes responsáveis pelo trabalho muscular.
A contração muscular é consequência do cruzamento destas duas proteínas, mas só acontece na presença de impulsos elétricos vindos das células nervosas que desencadeiam uma complexa reação química, dando origem à ação mecânica que é o movimento.
Estes são os estímulos naturais. Os estímulos artificiais podem ser gerados através de pacemakers implantados no nosso corpo, como já referi, ou através da colocação de elétrodos na nossa pele.
Eletroestimulação muscular
Um treino aliado à eletroestimulação muscular pressupõe um aumento exagerado das referidas reações químicas no nosso corpo comparativamente ao processo de estimulação muscular biológica.
Os sinais elétricos produzidos através de elétrodos podem ser gerados de forma diferenciada, através da variação das formas de onda, amplitude e frequência, possibilitando uma heterogeneidade de estímulos musculares, permitindo, desta forma, que se obtenham resultados diversos.
A eletroestimulação carateriza-se por ser potenciadora da dinâmica muscular pelo facto de conseguir que se contraia o maior número de fibras musculares, o que se consegue com eficácia no processo de exercitação do músculo eletroestimulado, ou seja, quando se alia a prática de exercício físico ao período em que se faz a eletroestimulação que, por si só, não produz efeitos significativos, devido ao facto de o estímulo provocar uma contração descoordenada, o que não acontece quando o estímulo é feito de forma natural (não artificial), desencadeando um movimento de onda que solicita ordenadamente as fibras musculares invocadas.
Estimulação muscular eletrónica (EMS)
Na correta utilização do sistema EMS, os valores de uma contração muscular podem ser 30% superiores aos valores da contração voluntária, o que se prevê que determine um maior desenvolvimento muscular comparativamente com o convencional treino efetuado com as naturais contrações voluntárias musculares.
Segundo informação de vários sites dos centros que disponibilizam este serviço, a eletroestimulação pode ser feita de forma localizada, ou pode ser feita uma eletroestimulação integral, (WB-EMS Whole Body Electromyostimulation).
Os mesmos referem que, durante as sessões, podem ser ativados mais de 300 músculos em simultâneo, agonistas e antagonistas, ou seja, conseguem, por exemplo, exercitar o bícepede e o trícepede ao mesmo tempo com a mesma intensidade.
Asseguram, também, que há um aumento do metabolismo basal e uma ativação imediata das fibras musculares de contração rápida, promovendo, deste modo, o fortalecimento dos ossos, músculos, articulações e tendões, reduzindo as dores nas costas e contribuindo para a melhoria da postura assim como a queima de uma quantidade elevada de calorias e melhoria da atividade cardiovascular.
Os treinos deverão ser efetuados uma a duas vezes por semana, não mais do que isso, com a duração de 20 a 25 minutos, e acompanhados por um personal trainer.
O método disponibiliza vários tipos de programas que pode escolher tendo em conta os seus objetivos e necessidades específicas.
Este tipo de treino pode e deve ser complementado com outra atividade física.
Antes de iniciar cada sessão deverá vestir um fato que contém os elétrodos e, posteriormente, uma máquina vai transmitindo os impulsos elétricos com maior ou menor intensidade, dependendo da pessoa e dos objetivos em questão, enquanto é efetuado o programa de exercícios prescrito sem cargas externas a não ser com o peso do próprio corpo.
O intervalo de recuperação é obrigatoriamente de 48 horas e nunca menos do que isso.
Porém, nem todos podem realizar este método de treino que é completamente desaconselhado, por exemplo, a mulheres grávidas, portadores de pacemaker ou outro tipo de implantes como próteses, pessoas que sofram de arritmias ou outros problemas cardíacos, assim como de hipertensão.
Este é o novo método que promete grande eficácia nos resultados após poucas sessões. Contudo, deixo aqui as minhas reservas, pois durante a minha pesquisa nos vários estudos científicos realizados que encontrei, não consegui reunir dados concretos que outorgassem a devida consistência a todos os benefícios elencados pelos promotores deste método. Além disso, durante o processo de pesquisa do tema, surgiram dúvidas relacionadas com as funções de proprioceção e coordenação neuromuscular, uma vez que este é um processo artificial e localizado, às quais não obtive repostas.
As conclusões dos estudos que encontrei de forma reiterada relativamente aos benefícios da eletroestimulação muscular foram concernentes aos processos terapêuticos (“controlo da dor, reabilitação e reeducação musculares, redução de espasmos e prevenção de atrofia”).
Desta forma, pessoalmente, continuo a preferir os métodos de treino convencional, permitindo que o meu corpo funcione de forma natural durante a prática desportiva sem impor aos meus músculos técnicas invasivas.
Kommentare