Hoje é Dia da Anemia: Pela sua saúde, leve a sério
- Adeildo Velôso da Silva
- 27 de nov. de 2020
- 5 min de leitura
Sabia que um em cada cinco portugueses sofre de anemia? E que um em cada três tem baixos níveis de ferro? No Dia da Anemia, esclarecemos tudo sobre esta condição que pode comprometer seriamente a sua saúde: não a desvalorize. A pandemia de Covid-19 não pode ser 'desculpa' para que ponha a sua vida em perigo ao negligenciar outros problemas.

Nunca as preocupações com a saúde foram tão prementes como nos dias que correm. Mas numa altura em que combater a pandemia de Covid-19, provocada pelo novo coronavírus, se tornou numa luta hercúlea que concentra esforços à escala global, importa não subestimar outras condições que podem colocar em risco a nossa saúde. Os alertas, de resto, têm sido vários. A comunidade médica tem vindo a mobilizar-se no sentido de apelar para a necessidade de não ignorarmos problemas cujos custos para a vida de cada um podem vir a ser elevadíssimos.
Hoje, assinalando o Dia da Anemia, falamos desta condição que lhe soará familiar ao ouvido. Mas até que ponto é conhecedor das implicações que pode ter? Do que está na origem do problema aos sintomas a que deve estar atento, passando pelo diagnóstico e tratamento, explicamos-lhe tudo o que deve saber sobre a anemia, que afeta um cada cinco portugueses, bem como sobre a deficiência de ferro, que potencia a anemia e que atinge um em cada três portugueses.
Comecemos pelo ferro. Trata-se de um nutriente fundamental, existente na hemoglobina, que por sua vez está presente nos glóbulos vermelhos e tem como função transportar o oxigénio dos pulmões para o resto do corpo. Sim, porque sem oxigénio nem o cérebro funciona devidamente, nem os músculos respondem de forma ajustada. Além disso, o ferro tem também uma palavra a dizer em matéria de imunidade, sendo um importante agente no combate de infeções.
Precisa mesmo de acabar aquela tarefa com caráter de urgência no trabalho e por mais que tente focar-se não consegue? Sai para a sua caminhada habitual, mas depois de descer um lance de escadas mais parece que correu a maratona? Desconcentração constante, cansaço de manhã à noite sem motivo aparente. Sim, estes sinais podem ser resultado de falta de ferro ou de anemia e, indelevelmente, hipotecam a qualidade de vida.
Mas não é só por uma questão de conforto no quotidiano que é imperativo que estejamos atentos. Na eventualidade, por exemplo, de nos debatermos com uma infeção pelo novo coronavírus, tão mais importante será assegurar que a batalha será travada sem outras comorbidades. E mesmo que não seja o caso. Se não for tratada, a anemia pode trazer sérias complicações que seriam evitadas perante um diagnóstico mais precoce. Portanto, se desconfia que alguma coisa não está bem, não hesite em recorrer a um médico. Palavra de ordem: não desvalorizar.
O que é Anemia?
Anemia é a condição na qual o conteúdo de hemoglobina no sangue está abaixo do valor de referência tendo em conta a idade e o sexo.
Existem no nosso sangue três tipos fundamentais de células: os glóbulos vermelhos, os glóbulos brancos e as plaquetas. Todas estas células são formadas na medula óssea, que se situa no interior dos ossos.
Os glóbulos vermelhos contêm hemoglobina que transporta oxigénio a partir dos pulmões para todo o corpo e, inversamente, dióxido de carbono a partir dos tecidos para ser eliminado pelos pulmões. Na anemia, os glóbulos vermelhos deixam de ser capazes de distribuir o oxigénio ao organismo de forma eficaz, causando diversos sintomas.
Para que se possam produzir glóbulos vermelhos e hemoglobina, o organismo necessita de ferro, vitamina B12, folatos e outros nutrientes contidos na dieta.
A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de 25% da população mundial poderá ter algum tipo de anemia. Em termos estatísticos, numa família portuguesa de cinco pessoas maiores de idade, uma delas sofrerá de anemia. A prevalência será maior nas mulheres (devido ao ciclo menstrual e à gravidez) do que nos homens; e as duas faixas etárias mais afetadas são dos 18 aos 34 anos e a partir dos 75 anos.
As Causas
A anemia ocorre sempre que o corpo humano não dispõe dos glóbulos vermelhos necessários ao seu normal funcionamento, quer por menor produção na medula óssea, quer por excessiva perda ou destruição. As causas de anemia são muito variáveis:
Falta de ferro A anemia por falta de ferro é a causa mais comum e tem uma prevalência de 17% na população portuguesa adulta.
Pode resultar de perdas por hemorragia, como acontece nas gastrites associadas ao uso de anti-inflamatórios, nas úlceras do estômago e duodeno ou em lesões cancerosas do tubo digestivo.
A anemia pode resultar também de um aumento das necessidades de ferro, como acontece na gravidez e nas fases de crescimento rápido, como a idade pré-escolar e a adolescência.
Uma outra situação bastante comum é a ocorrência de uma dieta desequilibrada e pobre em ferro, como acontece, por exemplo, nas dietas vegetarianas. As principais fontes de ferro na dieta são a carne vermelha, o peixe, alguns vegetais, o feijão e as nozes. A deficiência de vitamina B12 e ácido fólico pode igualmente causar um quadro de anemia.
Doenças Crónicas Doenças crónicas, como o cancro, a infeção pelo VIH/SIDA, a artrite reumatoide, a insuficiência renal, interferem com a produção de glóbulos vermelhos e provocam anemia crónica.
Se a medula óssea deixar de produzir células teremos também um quadro de anemia. Isso pode acontecer nos linfomas, em alguns tipos de infeção ou após a utilização de alguns fármacos.
Doenças Intestinais As doenças que afetem a absorção de nutrientes também aumentam a probabilidade de desenvolvimento de anemia.
Atividade Física Intensa Por exemplo, a corrida, pode associar-se a anemia pela destruição dos glóbulos vermelhos causada pelo impacto repetido.
Hereditariedade Algumas formas de anemia podem passar de pais para filhos, como a anemia de células falciformes.
Os Sintomas
Nas fases iniciais, a anemia tende a passar despercebida, sendo confundida com cansaço.
Nas fases mais avançadas, o cansaço associa-se a uma falta de força generalizada, palidez, dores de cabeça, irritabilidade, alterações do sono, tonturas, dificuldade de concentração, depressão, tensão arterial baixa, ritmo cardíaco acelerado, respiração acelerada com sensação de opressão, desmaios, unhas quebradiças, perda de apetite, extremidades frias.
Alguns sintomas também podem oferecer pistas da causa da anemia. Por exemplo, fezes escuras e pastosas, sangue na urina ou nas fezes, ou tosse com sangue sugerem que a anemia é causada por hemorragia. Urina escura ou icterícia (uma tonalidade amarelada da pele ou do branco dos olhos) sugere que a destruição de glóbulos vermelhos pode ser a causa da anemia. Uma sensação de queimação ou formigamento nas mãos ou nos pés pode indicar deficiência de vitamina B12.
Diagnostico e Tratamento
O diagnóstico de anemia é feito conjugando os dados da observação médica com o resultado de exames laboratoriais, onde se destacam os que avaliam os níveis e as características dos glóbulos vermelhos, hemoglobina e ferro no sangue.
O tratamento da anemia depende das suas causas e passa pela reposição dos níveis normais de hemoglobina e de glóbulos vermelhos.
Quando se confirma, por análises ao sangue, que a anemia é provocada por insuficiência de ferro, o tratamento passará pela administração de suplementos de ferro, por via oral ou injetável.
O mesmo se aplica à deficiência em vitamina B12 que poderá ser corrigida mediante a administração de suplementos.
Uma dieta equilibrada, onde se incluam carne, peixe, frutos e vegetais verdes, permite, em muitos casos, reverter o processo que causou a anemia. A Vitamina C presente nos citrinos, kiwis e brócolos, também tem um papel importante na absorção do Ferro.
Se a anemia for provocada por perdas de sangue, será fundamental identificar a origem dessa perda e proceder ao seu tratamento. Em anemias mais graves, poderá ser necessário recorrer a transfusões sanguíneas.
Comments