Grécia: Polícia inicia transferência de migrantes para novo campo
- Adeildo Velôso da Silva
- 18 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Uma operação policial está hoje em curso na ilha grega de Lesbos para transferir milhares de migrantes a viver na rua, depois do incêndio do campo de Moria, para um novo campo.

Às 7:00 (locais), a polícia começou a acordar os migrantes, barraca por barraca, para levá-los ao novo campo. Os migrantes começaram a reunir os poucos seus pertences e a desmontar as barracas improvisadas nas ruas, em estacionamentos de supermercado e nas margens de estradas.
As autoridades gregas e a ONU estavam a construir, desde sábado, um novo campo a partir do qual podem ser retomados os procedimentos de concessão de asilo.
Mas numerosos refugiados estão a recusar instalar-se no novo campo, por recearem ficarem novamente meses à espera de serem transferidos para o continente grego, ou um outro país europeu.
O objectivo deste novo campo "temporário" é que os refugiados "possam progressivamente, e com calma, deixar a ilha com destino a Atenas" ou "serem reinstalados noutro local", indicou na quarta-feira o representante na Grécia do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), Philippe Leclerc.
O acesso ao novo campo foi barrado aos jornalistas e aos funcionários da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).
A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciou hoje que, durante as primeiras horas que durou a operação policial, foram impedidos de aceder à nova clínica erguida numa área perto de onde dormem milhares de pessoas a céu aberto, sem acesso aos serviços básicos. Algumas horas depois, as equipas médicas conseguiram abrir a clínica.
"O que as pessoas pedem, o que elas necessitam, é de não serem fechadas noutro campo. Esta gente precisa de ser retirada e levada para um lugar seguro na Grécia ou noutros países europeus", afirmou Francisca Bohle Carbonell, responsável de enfermaria dos MSF na ilha.
Além disso, outras oito ONG criticaram hoje a decisão do Serviço de Asilo de lançar, a partir de segunda-feira, o exame dos pedidos de asilo à distância para refugiados em Lesbos.
"Eles vão ser convocados para entrevistas por teleconferência sem que um assistente jurídico tenha o direito de acompanhá-los", destacaram.
O porta-voz da polícia, Theodoros Chronopoulos, afirmou que a operação tem fins humanitários. "O objetivo é proteger a saúde pública", declarou à AFP.
Enquanto a maioria dos grupos do Parlamento Europeu concordou em pedir que não se construam mais campos de refugiados como Moria, que durante cinco anos foi considerado por muitas organizações como o símbolo do fracasso europeu, na ilha de Lesbos é dado como certo que, se nada o impedir, este novo campo será uma continuação do anterior.
A proposta do governador do Egeu do Norte, Kostas Muntsuris, de realizar uma greve geral na ilha contra o campo e pedir a transferência de todos os migrantes e refugiados foi hoje aprovada, mas ainda não tem data.
Moria, o maior campo de migrantes da Europa, criado há cinco anos em plena crise migratória, foi totalmente destruído por incêndios, provocados intencionalmente de acordo com as autoridades gregas, na madrugada de 8 para 9 de Setembro. Seis jovens migrantes afegão detidos e quatro deles foram acusados por "incêndio voluntário".
O fogo teria começado após uma revolta de alguns solicitantes de asilo que seriam colocados em isolamento depois de testar positivo para o novo coronavírus ou entrar em contacto com uma pessoa infectada.
Mais de 3 mil barracas, milhares de contêineres, escritórios administrativos e uma clínica dentro do acampamento foram atingidos pelas chamas.
Seis jovens afegãos são suspeitos de estarem envolvidos no desastre, quatro dos quais foram indiciados em Lesbos por incêndio criminoso, incitação à violência a uso ilegal de força.
No entanto, muitos migrantes se recusam a entrar no novo campo, pois temem permanecer retidos durante meses à espera de uma eventual transferência ao continente grego ou outro país europeu.
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