NASA: Detectado primeiro planeta intacto próximo de uma estrela
- Adeildo Velôso da Silva
- 17 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Uma equipa internacional de astrónomos detectou o que pode ser o primeiro planeta intacto próximo de uma anã branca, estrela em fim de vida que normalmente destrói planetas na sua vizinhança, anunciou hoje a NASA.

Em comunicado, a agência espacial norte-americana, que opera o telescópio TESS, um 'caçador' de planetas fora do Sistema Solar, refere que o planeta em causa, o WD 1856b, possivelmente 14 vezes maior do que Júpiter, está a 80 anos-luz da Terra, na constelação Dragão.
Batizado de WD 1856 b, o planeta não deveria existir. Pelo menos não de acordo com nosso conhecimento sobre o universo. Quando uma estrela como o Sol está no fim de sua vida, ela "incha" e se torna uma gigante vermelha, centenas de vezes maior que seu tamanho original.
O planeta extrassolar (exoplaneta) completa uma órbita à estrela WD 1856+534 ao fim de um dia e 14 horas, a uma velocidade 60 vezes superior à da órbita de Mercúrio em relação ao Sol. A anã branca é muito velha, terá 10 mil milhões de anos (o Universo terá 13,8 mil milhões de anos).
Justificando a relevância da descoberta, um dos astrónomos, Andrew Vanderburg, que leciona na Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, disse que "o processo de criação de uma anã branca destrói planetas próximos".
WD 1856 b tem um tamanho similar ao de Jupiter, orbita a estrela WD 1856+534 uma vez a cada 34 horas, 60 vezes mais rápido que a órbita de mercúrio ao redor do Sol, e está a cerca de 80 anos-luz daqui. A estrela tem 18 mil km de diâmetro e idade estimada em 10 bilhões de anos. Ela é parte de um sistema trinário (com três estrelas), composto também pelas anãs vermelhas G229-20 A e G229-20 B.
Vandenburg e seus colegas estimam que WD 1856 b se formou pelo menos 50 vezes mais distante que sua posição actual, e foi atraído pela estrela. "Sabemos há muito tempo que depois que as anãs brancas nascem, objectos distantes como asteróides e cometas podem migrar em direcção a estas estrelas. Eles normalmente são despedaçados pela intensa força gravitacional e se transformam em um disco de detritos", disse Siyi Xu, astrónoma assistente no Observatório Internacional Gemini, no Havaí, e co-autora do artigo.

"Foi por isso que fiquei tão animada quando Andrew me contou sobre esse sistema. Já havíamos visto indícios de que planetas também poderiam ser atraídos, mas esta parece ser a primeira vez que um planeta fez a jornada inteira intacto", afirmou.
WD 1856 b foi descoberto pelo método de trânsito, quando um observatório detecta variações no brilho da estrela quando um planeta passa à sua frente. É possível que existam outros planetas no sistema, mas até o momento eles não foram detectados.
"Qualquer coisa que depois se aproxima demasiado é normalmente despedaçada pela enorme gravidade da estrela", acrescentou o líder da investigação, citado pela NASA.
Além do telescópio TESS, os investigadores socorreram-se de um outro telescópio espacial, o Spitzer, antes de ter passado à "reforma", em 30 de Janeiro, para poderem fazer o estudo, uma vez que a estrela, por ser tão velha, emite uma luz ténue, dificultando o trabalho de detecção de uma alteração significativa no seu brilho provocada pela passagem de um planeta.
Os resultados do estudo são publicados na revista científica Nature.
Em Dezembro, o Observatório Europeu do Sul anunciou a descoberta do primeiro planeta gigante em torno de uma anã branca, mas que estava a evaporar-se.
Em 2015 foi divulgado um estudo na Nature que reportava a descoberta de uma anã branca a "devorar" os restos de um planeta semelhante, na composição, à Terra. O estudo era igualmente coordenado por Andrew Vanderburg, que assina o trabalho hoje divulgado.
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