Nobel da Química: Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna
- Adeildo Velôso da Silva
- 8 de out. de 2020
- 3 min de leitura
A Real Academia Sueca das Ciências atribuiu hoje o prémio Nobel da Química a Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna pela criação de um método de edição do genoma.

O Nobel da Química foi atribuído a Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna pelo seu trabalho na descoberta da edição de genomas.
As investigadoras descobriram um método para edição do ADN de animais, plantas e microrganismos. Este método de engenharia genética permite "reescrever o código da vida", afirmou o secretário-geral da Academia Sueca, Goran Hansson, na cerimónia de anúncio do prémio, em Estocolmo.
A Academia acredita que esta descoberta tem tido um impacto revolucionário nas ciências da vida, está a contribuir para novas terapias contra o cancro e pode tornar realidade o sonho da cura de doenças hereditárias.
A francesa Emmanuelle Charpentier, da unidade de Ciência Patogénica do Instituto Max Planck, na Alemanha, e a norte-americana Jennifer Doudna, do Instituto de Medicina Howard Hughes, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, são responsáveis pela criação da ferramenta química CRISPR-Cas9, que permite fazer cortes em partes seletas das sequências de DNA.
São "as mais pequenas peças que compõem a vida", indicou Pernilla Wittung Stafshede, membro da Academia Sueca, referindo que a "tesoura genética" que as duas laureadas criaram em 2012 "já beneficiou grandemente a Humanidade".
"Veio revolucionar as ciências da vida. Podemos facilmente editar os genomas como desejado", referiu.
O que é o Crispr? Para que ele serve?
O Crispr/Cas9 é uma espécie de "tesoura genética", que permite à ciência mudar parte do código genético de uma célula. Com essa "tesoura", é possível, por exemplo, "cortar" uma parte específica do DNA, fazendo com que a célula produza ou não determinadas proteínas.
A pesquisa com a descoberta da ferramenta foi publicada na revista científica "Science", uma das mais importantes do mundo, em Junho de 2012.
Usando o Crispr, cientistas podem alterar o DNA de animais, plantas e microrganismos com extrema precisão. A tecnologia "teve um impacto revolucionário nas ciências da vida", segundo o comitê do Prêmio Nobel, e está contribuindo para novas terapias contra o câncer. A ferramenta também pode tornar realidade o sonho de curar doenças hereditárias.

Para que ele é usado hoje?
Como o Crispr é bastante fácil de usar, ele foi amplamente difundido na pesquisa básica. Ele é usado para alterar o DNA de células e de animais de laboratório, com o objetivo de compreender como diferentes genes funcionam e interagem, por exemplo, durante o curso de uma doença.
"A gente consegue derivar linhagens [de células] de pacientes com diferentes doenças genéticas no laboratório e, a partir do sangue, conseguimos fazer células musculares, neurônios, células pulmonares, qualquer tipo. Com essa tecnologia, a gente tenta corrigir o defeito genético para resgatar o quadro clínico [do paciente]. Ou pode criar mutações e ver o que acontece", explica a geneticista Mayana Zatz, que lidera o Projeto Genoma da USP.
No laboratório, os cientistas também estão editando genes de porcos para desenvolver órgãos que possam ser transplantados em humanos sem que haja rejeição, segundo Zatz.
Além dos usos em humanos, pesquisadores também conseguiram desenvolver plantas capazes de resistir a mofo, pragas e seca, por exemplo, além de criar cães extramusculosos, porcos que não contraem viroses e amendoins antialérgicos. “Há um poder enorme nessa ferramenta genética, que afeta a todos nós. Não só revolucionou a ciência básica, mas também resultou em colheitas inovadoras e levará a novos tratamentos médicos inovadores ”, disse Claes Gustafsson, presidente do comitê do Prêmio Nobel de Química.
Falando via telefone na conferência de imprensa a seguir ao anúncio do prémio, Emmanuelle Charpentier, recordou que começou a carreira a fazer edição genética em bactérias mas sempre ambicionou que um dia se chegasse a um ferramenta geral de edição do genoma.
Afirmou que desde que publicou os estudos sobre o CRISPR Cas9 lhe disseram, "até mais vezes do que queria ouvir", que um dia ganharia um Nobel mas que "quando uma pessoa ouve isso, não faz realmente a ligação consigo".
"Hoje, quando Goran Hansson me telefonou, fiquei muito emocionada. Foi muito surpreendente, ainda não sinto que seja real", admitiu.
Questionada sobre se o facto de o Nobel ser atribuído a duas mulheres tem algum significado especial, afirmou pensar em si "principalmente como cientista".
"Talvez passe uma mensagem às mulheres que gostariam de seguir o caminho da ciência que uma mulher também pode ter impacto na investigação e ganhar prémios. A falta de interesse na ciência é uma coisa preocupante", disse.
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