Prémio Nobel da Paz vai para o Programa Alimentar Mundial
- Adeildo Velôso da Silva
- 10 de out. de 2020
- 3 min de leitura
O Prémio Nobel da Paz foi hoje atribuído ao Programa Alimentar Mundial (PAM) pelos esforços para combater a fome e para melhorar as condições para a paz em zonas de conflito, anunciou o Comité Nobel Norueguês.

O comité do prémio Nobel da Paz anunciou o vencedor da edição de 2020 na manhã desta sexta-feira , justificando a sua decisão com o facto de "o Programa Alimentar Mundial contribuir diariamente para o avanço da fraternidade das nações referidas no testamento de Alfred Nobel".
"Como a maior agência especializada da ONU, @WFP [o Programa Alimentar Mundial] é uma versão moderna dos congressos de paz que o #NobelPeacePrize se destina a promover", pode ler-se no Twitter.
O prémio Nobel da Paz de 2020 foi concedido ao Programa Mundial de Alimentos da ONU, que combate a fome no mundo, nesta sexta-feira (9).
Segundo a Academia Sueca, o programa foi premiado "pelos seus esforços para combater a fome, pela sua contribuição para melhorar as condições para a paz em áreas afetadas por conflitos e por atuar como força motriz nos esforços para prevenir o uso da fome como arma de guerra e conflito".
A organização atua em situações de emergência e em países afetados por conflitos, onde há mais risco de desnutrição.
O porta-voz do Programa Mundial de Alimentos, Tomson Phiri, disse que o prêmio para a agência "é um momento de orgulho". Ele participava de um encontro semanal na sede das Nações Unidas em Genebra quando foi surpreendido com o anúncio do Nobel.
"Este ano nós tivemos que atender a uma convocação para agir", disse Phiri, se referindo ao atendimento às vítimas da fome durante a pandemia do novo coronavírus.
Segundo a organização do Nobel, o programa já seria um merecedor do prêmio sem a pandemia, mas com a Covid-19 os motivos ficaram mais evidentes: a comida está menos disponível. Nesse cenário, "o programa da ONU demonstrou uma habilidade impressionante de intensificar seus esforços", afirmou o comitê.
O diretor do escritório brasileiro do programa, Daniel Balaban, disse que o anúncio foi "uma surpresa completa" e defendeu o trabalho contínuo desta agência das Nações Unidas. Ele reforçou a importância do combate à fome para a redução dos conflitos. "A desigualdade leva à desesperança", disse Balaban. "O WFP é fundamental. E se ele parasse agora, muito gente morreria de fome.”
O vencedor saiu de uma lista de candidatos com 211 pessoas e 107 organizações, num ano de incertezas e desafios globais e foi anunciado pela presidente do comité, Berit Reiss-Andersen
O Comité Nobel assinalou que a pandemia do novo coronavírus fez aumentar a fome que milhões de pessoas enfrentam em todo o mundo e pediu aos governos que garantam que o PAM e outras organizações de ajuda recebem o apoio financeiro necessário para as alimentar.
"Em 2019, o PAM prestou assistência a cerca de 100 milhões de pessoas em 88 países vítimas de insegurança alimentar aguda e fome", indica o comité no comunicado em que anuncia o prémio.
"Com o prémio deste ano, o (comité) pretende que os olhos do mundo se voltem para os milhões de pessoas que sofrem ou enfrentam a ameaça da fome", disse Reiss-Andersen, adiantando que "o Programa Alimentar Mundial desempenha um papel fundamental na cooperação multilateral, tornando a segurança alimentar um instrumento de paz".
Milhões de pessoas em 88 países
O órgão ligado à ONU tem sede em Roma e é a maior entidade que combate os problemas de fome e promove segurança alimentar no mundo --a cada ano, o Programa de Alimentos deu auxílio a cerca de 97 milhões de pessoas, em 88 países, de acordo com sua página na internet.
A projeção feita pelo Programa é que em um ano pode haver até 265 milhões de pessoas ameaçadas pela falta de comida, disse Reiss-Andersen. "Isso [a premiação] também é um apelo à comunidade internacional para não deixar o Programa Mundial de Alimentos sem fundos", afirmou ela.
"Agradecemos ao comitê do prêmio por honrar o Programa Mundial de Alimentos com o Nobel da Paz 2020. Esse é um lembrete poderoso para o mundo de que a paz e o combate à fome caminham lado a lado", afirmou o Programa em sua conta em uma rede social.
O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Qu Dongyu, celebrou o prêmio para o programa. Em uma rede social, Dongyu agradeceu a comunidade internacional pelo reconhecimento da importância da segurança alimentar.
"Temos muito orgulho de ter trabalhado com o Programa, fundado em 1961 como uma subsidiária da FAO para a assistência alimentar, e vem trabalhando há décadas para acabar com a fome", escreveu Dongyu.
O vencedor do Nobel é decidido por um comitê eleito pelo parlamento da Noruega.
O laureado irá receber o prémio de dez milhões de coroas suecas (quase um milhão de euros), para além de um diploma e uma medalha. A cerimónia de entrega do prémio acontecerá em 10 de Dezembro, em Oslo, na Noruega, e contará com a presença de apenas cerca de 100 convidados.
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